Investigadores da Universidade de Coimbra demonstraram que o uso da tomografia de coerência óptica (OCT) permite identificar alterações microscópicas na retina em estágios muito precoces da doença metabólica, de acordo com um estudo publicado na revista Eye and Vision Um avanço da Universidade de Coimbra, publicado na revista Eye and Vision, revela que a análise de imagens por tomografia de coerência óptica (OCT) permite identificar alterações microscópicas na retina durante os estágios iniciais do diabetes tipo 2, mesmo antes do aparecimento de sinais clínicos da retinopatia diabética.
O desafio da retinopatia diabética
A retinopatia diabética representa a principal causa de cegueira entre adultos em idade produtiva. Os dados recolhidos pela Universidade de Coimbra indicam que afeta mais de 130 milhões de pessoas em todo o mundo, um número que aumenta à medida que cresce a prevalência da diabetes tipo 2. O mais preocupante é que o diagnóstico desta complicação visual geralmente ocorre anos após o aparecimento da doença, quando os danos já não são reversíveis e as alternativas de tratamento são limitadas.
Durante esse longo período assintomático, os métodos diagnósticos clássicos — como a fotografia retiniana, a angiografia ou mesmo a OCT convencional — não conseguem captar as primeiras alterações biológicas. A análise avançada de imagens OCT deteta alterações microscópicas na retina antes da retinopatia diabética na diabetes tipo 2 Esta situação revela a importância de dispor de ferramentas mais precisas e avançadas, capazes de descobrir as alterações «silenciosas» antes que a visão se deteriore irremediavelmente. Antecipar o diagnóstico não só facilitaria intervenções mais eficazes, como melhoraria a qualidade de vida das pessoas que vivem com diabetes.

Um modelo animal revela o potencial da análise avançada
Com o objetivo de superar essas limitações, a equipa liderada por Sara Oliveira e António Francisco Ambrósio concebeu uma investigação em ratos Wistar Han, induzidos a desenvolver diabetes tipo 2 através de uma dieta rica em gorduras e da administração de estreptozotocina. Este modelo experimental permitiu analisar a evolução da doença em prazos determinados, obtendo imagens de OCT e registos eletrorretinográficos às quatro, oito e doze semanas. Assim, os cientistas puderam estudar em detalhe as alterações tanto na estrutura como na função da retina ao longo do processo. A análise aplicada não se limitou às técnicas habituais. Os investigadores utilizaram a matriz de coocorrência de níveis de cinza (GLCM), uma metodologia estatística que examina mais de perto a textura das imagens obtidas por OCT.
A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira em adultos com diabetes tipo 2, afetando mais de 130 milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com a Universidade de Coimbra, esta ferramenta forneceu métricas minuciosas sobre a organização microscópica das camadas da retina, permitindo identificar alterações invisíveis para outros métodos de diagnóstico.
Alterações invisíveis nas fases iniciais
Os resultados da investigação evidenciaram que a diabetes tipo 2 provoca alterações precoces na estrutura microscópica da retina. As alterações foram especialmente notórias na camada plexiforme interna e nos segmentos dos fotorreceptores, responsáveis por converter a luz em sinais visuais. Ao analisar as imagens obtidas às 8 e 12 semanas, a equipa detectou variações importantes em indicadores como a autocorrelação, a proeminência do cluster e a homogeneidade, entre outros parâmetros. Esses mesmos indicadores já haviam sido alterados em estudos anteriores sobre diabetes tipo 1, o que reforça a consistência da técnica utilizada.
Mas as mudanças não se limitaram à textura. O estudo também encontrou um emagrecimento generalizado em quase todas as camadas da retina e uma leve redução na imunorreatividade de determinadas proteínas, sem presença de fugas vasculares ou danos graves na barreira hematorretiniana, que protege a retina de substâncias nocivas. O estudo revela afinamento das camadas da retina e disfunção funcional antes dos sintomas visíveis em pacientes com diabetes tipo 2 A nível funcional, os eletro-retinogramas revelaram um atraso nos potenciais oscilatórios sob condições escotópicas, o que aponta para uma disfunção retiniana incipiente, presente antes do aparecimento de sintomas visíveis.

Diagnóstico precoce e expectativas
Essas descobertas sugerem que a análise avançada das imagens de OCT pode revelar sinais estruturais mínimos na retina durante as fases mais iniciais do diabetes tipo 2. Essa capacidade permite antecipar o diagnóstico e pode facilitar a intervenção clínica antes que ocorram danos irreversíveis. António Francisco Ambrósio, codiretor do estudo, resumiu assim: «Ao captar sinais estruturais subtis nas imagens de OCT, esta abordagem abre uma nova janela diagnóstica para os processos mais incipientes da doença», de acordo com declarações recolhidas pela Universidade de Coimbra.
Na perspetiva da Eye and Vision, a possibilidade de identificar pacientes em risco a tempo permitiria implementar tratamentos antes que a visão fosse comprometida definitivamente. Por sua vez, estes resultados reforçam a ideia de que os métodos de diagnóstico atuais poderiam beneficiar da incorporação de análises estatísticas mais complexas e exaustivas que explorassem o lado menos visível das imagens da retina. A análise de textura em imagens OCT oferece uma nova janela diagnóstica para antecipar riscos visuais na diabetes tipo 2
Limitações e futuro da técnica
Apesar do potencial, os autores e as próprias fontes, como a Universidade de Coimbra e a Eye and Vision, alertam para a necessidade de cautela. Os resultados foram obtidos num modelo animal, pelo que não é recomendável extrapolá-los diretamente para a população humana sem validação adicional. Embora as semelhanças com os mecanismos observados em pessoas com diabetes tipo 2 sejam encorajadoras, a fiabilidade do método deverá ser confirmada por estudos clínicos específicos.
A equipa destaca que a robustez da técnica, já testada em modelos de diabetes tipo 1 e 2, fornece uma base sólida, mas que a validação em ensaios com pacientes será determinante para a sua futura implementação na prática médica. Só então será possível avaliar se o diagnóstico precoce baseado na análise de textura em OCT realmente transforma a prevenção e o tratamento da retinopatia diabética. Detectar sinais microscópicos na retina com ferramentas de análise avançada pode levar a uma nova era na prevenção e no tratamento de uma das maiores ameaças visuais associadas à diabetes, permitindo proteger a visão desde as fases mais precoces da doença.
