Os investigadores não acreditam: encontram milhares de novas espécies microbianas nas fezes de vários herbívoros

No planalto Qinghai-Tibete, uma equipa de cientistas descobriu um surpreendente «universo microbiano» nas fezes dos grandes animais herbívoros locais. O estudo, publicado na revista Microbiome, revela que cerca de 88% das espécies microbianas encontradas em iaques, ovelhas tibetanas, antílopes, gado bovino, cavalos e kiangs não tinham sido catalogadas anteriormente. Esta descoberta abre novas oportunidades para a biotecnologia, a farmacologia e a mitigação das alterações climáticas.

Descoberta massiva de novas espécies microbianas nas fezes de herbívoros do planalto Qinghai-Tibete

A descoberta faz parte do Segundo Programa de Expedição Científica e Investigação ao Planalto Tibetano, uma iniciativa que, durante cinco anos, reuniu mais de 5.000 amostras fecais de seis herbívoros nativos: iaque, ovelha tibetana, antílope, gado bovino, cavalo e kiang (burros selvagens). A análise inicial, realizada por especialistas da BGI-Research e da Universidade de Yunnan, centrou-se em 1.412 amostras recém-recolhidas. Os resultados superaram as previsões: cerca de 88% das espécies microbianas identificadas nas fezes não tinham sido catalogadas anteriormente.

O autor principal, Zhang Zhigang, citado pelo South China Morning Post (SCMP), destacou que esta base de dados microbiana oferece a primeira visão abrangente do microbioma intestinal dos mamíferos das altas montanhas. Além disso, sublinhou o valor estratégico da descoberta, uma vez que muitas destas funções biológicas poderiam tornar-se ativos patenteáveis na crescente concorrência global pelos recursos genómicos.

Microorganismos nas fezes de herbívoros com potencial biotecnológico e aplicações industriais

Além de sua relevância ecológica, os microorganismos descobertos nas fezes representam uma fonte promissora para a inovação em engenharia genética e farmacologia. Os investigadores apontaram que entre os novos genes identificados podem existir enzimas com funções semelhantes às que sustentam o sistema CRISPR-Cas, fundamental para cortar e editar ADN com alta precisão. A possibilidade de encontrar variantes mais estáveis ou eficientes abre opções para tecnologias de edição genética mais avançadas. No campo farmacêutico, a diversidade microbiana detectada inclui moléculas suscetíveis de se tornarem novos antimicrobianos ou compostos terapêuticos, conforme detalha o SCMP.

Impacto ambiental: novas vias microbianas nas fezes de herbívoros para reduzir o metano e degradar a celulose

O projeto também destaca aplicações diretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa a partir dos microbiomas de herbívoros de alta montanha. Estas são algumas das mais destacadas:

  • Degradação eficiente da celulose: os herbívoros consomem plantas fibrosas, o que favorece a presença de enzimas especializadas na decomposição da celulose. A equipa está a realizar ensaios para avaliar se essas cepas podem ser utilizadas em indústrias como a fabricação de papel ou têxteis.
  • Bactérias capazes de reduzir o metano: o estudo identificou duas espécies bacterianas inéditas nas fezes que, em testes de fermentação in vitro, conseguiram diminuir significativamente as emissões de metano em comparação com os controlos. Os investigadores estão agora a preparar experiências para validar esses resultados em animais.

Este avanço pode tornar o planalto Qinghai-Tibete uma referência global para soluções biológicas destinadas a combater o aquecimento global. Num território onde apenas prosperam organismos extraordinariamente adaptados, os cientistas encontraram uma reserva funcional com capacidade para transformar a biotecnologia e a indústria nos próximos anos.

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